7.4.10

Crônica na biblioteca do Colégio

É uma tarefa meio árdua estudar na biblioteca do Colégio quando a gente, de fato, não tá nem um pouco a fim. Principalmente quando a matéria é algo como História da Física, que cotribui para confundir conceitos que foram dificilmente - na maioria dos casos - consolidados na nossa cabeça; adoro História, e até gosto de Física, mas História da Física consegue ser bastante confuso.

Na biblioteca acontecem muitas coisas ao mesmo tempo, que acabam confundindo a gente: uns até conseguem se concentrar, mas a grande maioria fala, seja para jogar conversa fora, para tirar dúvidas, ou o que for. Pessoas chegam, pessoas vão embora, amigos passam para dizer "oi", grupos de pessoas riem descontroladamente, namorados se beijam... E eu tento ler mais uma linha do meu texto sobre História da Física.

A garota ao lado comenta com sua vizinha:

- Nossa, mas você viu ontem a chuva no Rio?

Mais uma vez - e em vão -, dirijo a atenção para a leitura, mas o garoto do outro lado fala com seu amigo:

- Não, olha... Força é igual à massa vezes a aceleração, então...

Fazendo certo esforço para me concentrar, eu consigo, finalmente, me desligar do mundo externo e ler um parágrafo inteiro do texto. Por fim, olho para a minha frente... Pra quê? Só por isso, chegam várias pessoas, cada uma carregando um livro diferente: uma garota com um Biologia 2, do Armênio e Ernesto, outro com o Física 3 novo da Moderna - parte I, claro -, um pseudo-conhecido com uma Folha de São Paulo... Um menino com um livro de Sociologia? Esse aí não deve ser do terceiro ano, mas do segundo ou até do primeiro...

Volto, enfim, ao texto: "Aristóteles distingue quatro tipos de movimento:(...)"...

"-... A artéria transporta tanto sangue venoso quanto arterial..."
"- Você tem o caderno do Jorge aí?"
"- Você não sabe o que me aconteceu hoje!"
"- Mas a Tuca disse que..."

"(...) o substancial, que corresponde à(...)"

"- Isso tudo cai na prova?"
"- Mas a fórmula de Coulumb..."
"- Antes de estudar aqui, eu..."

"..."

Felizardos são os que conseguem se concentrar nestas condições! Francamente, isso é digno de uma crônica; quem dera se Luis Fernando Verissimo estivesse aqui comigo.

Mas agora, se me dão licença, preciso voltar - tentar voltar - aos meus estudos sobre História da Física. De novo.

Quem sabe por algum milagre eu não consigo me concentrar melhor?

19.2.10

Cultura?

Há mais ou menos dois anos, mencionei, neste mesmo blog, que não gostava de carnaval; bem, gostaria, então, de fazer uma correção no que disse. Eu gosto sim de carnaval, mas preciso deixar claro que só me agrada aquele em que se toca samba, marchinhas, em que todos se fantasiam e o clima é de alegria: o carnaval do Rio de Janeiro.

Digo isso porque fui, pela primeira vez na vida, ao Rio passar o carnaval; pela primeira vez, soube o que é carnaval de verdade, e, acreditem, superou absolutamente todas as minhas expectativas. Fui a alguns blocos de rua, e senti na pele o que é toda essa alegria. Me diverti demais.

No domingo, às 8:00 da manhã, eu e meu namorado fomos a um bloco no centro, chamado Boitatá. Todos me disseram "ah, esse bloco é lindo demais, vale o sacrifício de acordar cedo!"; eu não acreditei muito, mas fui. E, admito: o sacrifício mais que valeu.

Quando chegamos, um aglomerado de pessoas felizes fantasiadas, bateria e uma verdadeira orquestra de metais se reuniam no centro meio histórico do Rio de Janeiro para o bloco. De repente, a bateria começou a tocar, com o bloco ainda parado, e, em seguida, os metais. Reconheci na hora o que estavam tocando. Villa, "O Trenzinho Caipira", último movimento das Bachianas Brasileiras nº 2. Villa Lobos. As pessoas começaram a aplaudir e a cantar, entusiasmadas, a música do nosso querido compositor brasileiro.

Foi emocionante. Admito que fiquei arrepiada, e quase chorei. Por que foi emocionante? Bem, o simples fato de as pessoas tocarem, cantarem e se entusiasmarem com a música erudita de um grande compositor brasileiro como o Villa Lobos enquanto o resto do país se mata com aquelas festas que tocam aquela "música" ruim e completamente sem fundamento que é o (uhg!) axé é, no mínimo, tocante. Isso mostra a valorização de uma cultura muito, mas realmente muito rica, que é a que nós temos. Cultura esta que - ironicamente - não é nem lembrada no carnaval (me desculpem a expressão, mas é isso mesmo) baixo-nível das cidades históricas de Minas Gerais.

Se quiser me chamar para ir no seu carnaval, sinta-se à vontade. Mas, lembre-se: o meu nível é um pouquinho mais alto, rs.

13.1.10

Ao alho e óleo

Estávamos todos em um restaurante no Leme, no Rio de Janeiro, em uma tarde de terça feira, talvez em junho, não sei, de 2005. Um restaurante simples, de frutos do mar; super pequenininho, mas bem jeitoso, servindo peixe bem fresco. É, eu gostava muito de lá - até esse dia.

Acho que eu estava meio sonolenta, porque eu não estava prestando atenção no que meus pais e minhas irmãs estavam pedindo. Tudo o que eu ouvi foi:

- ... ao alho e óleo. - disse meu pai - E, pra beber... Bruna, o que você quer pra beber?

- Ahn? - disse eu, meio confusa - Ah, sei lá, pode ser uma Coca...

O garçom anotou o pedido e foi para a cozinha. Logo depois, voltou trazendo uma cesta de pães e uns mariscos. Pegando um marisco, eu virei para minha irmã e perguntei:

- Su, o que é que vocês pediram que é "ao alho e óleo"?

- Ué, Bruna, ao alho e óleo, uai!

Na verdade, o que eu queria saber era que comida eles tinham pedido... Mas, pelo visto, ela não entendeu a minha dúvida. Aliás, ninguém pareceu entender a minha dúvida.

- Não, Suzana - eu disse, pegando mais um marisco - o que eu quero saber é O QUÊ é "ao alho e óleo"...

- Bruna do céu! Alho é alho, e óleo é óleo! COMO você não sabe o que é "ao alho e óleo"? - disse a Suzana, horrorizada - Mamãe, a Bruna NÃO SABE o que é "ao alho e óleo"!

- Não, Suzana! O que eu não sei é O QUÊ é "ao alho e óleo"! - disse eu, frustrada por não estar sendo entendida.

- Que isso, Bruna! Ao alho e óleo, minha filha! - disse minha mãe.

- Gente, mas EU SEI o que é "ao alho e óleo", o que eu quero saber é O QUÊ é "ao alho e óleo"!

- BRUNA, OLHA PRA MIM - disse minha mãe, perdendo a paciência - você sabe o que é alho?

- Sei...

- Você sabe o que é óleo?

- Sei, mas...

- ENTÃO, junta alho com óleo, e você tem AO ALHO E ÓLEO! NÃO É POSSÍVEL!

- Meu D'us do céu... - disse a Suzana.

- Alho e óleo, Bruna, igual macarrão, sabe? - disse a Sarah, minha outra irmã.

- BRUNA, VOCÊ VAI APANHAR! - disse minha mãe, já com raiva.

- MEU D'US! - as lágrimas já pulavam para fora dos meus olhos - EU ENTENDI! MAS QUE PEIXE, QUE COMIDA, QUE COISA VOCÊS PEDIRAM QUE VEM "AO ALHO E ÓLEO"?!?!?!

- AH! - exclamou a Sarah - Ela quer saber é que peixe a gente pediu, mamãe, ela sabe o que é "ao alho e óleo"!

- É óbvio que eu sei o que é "ao alho e óleo"!

- Ah... - disseram a minha mãe e a Suzana juntas.

- Linguado que a gente pediu, Bruna - disse meu pai, pacientemente.

- Ah, tá... Brigada, era só isso que eu queria saber...

Depois disso, nós comemos, e, naquele mesmo dia, voltamos para BH de avião. Chegando em casa, eu passei mal - acho, aliás, que nunca passei tão mal na minha vida.

É, parece até que o mal estar foi consequência do mal-entendido... Mas, analisando friamente, acho que foi por causa do marisco mesmo.