5.1.11

Decolando

É interessante observar as pessoas quando o avião está decolando. É como se sua personalidade, cultura, traumas, religião, etc, viessem à tona por um instante.

Por um erro na compra da passagem, acabei ficando no assento 10D, enquanto meus pais ficaram na fileira 29; por isso, fiquei olhando - e observando - todos à minha volta enquanto o avião acelerava para alçar voo.

A moça simpática e falante, logo ao meu lado, de repente fechou os olhos e fez o sinal da cruz; um homem de pé enfaixado, do outro lado do corredor, que antes lia alguma coisa e fazia suas anotações, fechou os olhos com força, como se a decolagem fosse doer muito; um garoto agarrou com força os braços da cadeira; um casal deu as mãos; admito que até eu, rapidamente, fechei os olhos e rezei meu shemá. Como no momento decisivo da final da Copa do Mundo, o voo inteiro prendeu a respiração.

E, com a mesma velocidade que a tensão veio, ela se foi. A partir do momento em que as rodas do avião deixaram o solo, houve uma mudança na atmosfera: a moça simpática e falante voltou a conversar com a senhora ao seu lado; o homem com o pé enfaixado abriu os olhos e voltou a ler o que estava lendo, fazendo suas anotações; o garoto soltou os braços da cadeira; o casal soltou as mãos e deu um beijo. O voo inteiro soltou o ar de seus pulmões. E, enquanto todos voltavam às suas atividades, eu, observadora como sempre, me pus a escrever - na agenda mesmo - os meus pensamentos.