29.1.14

Elegia

Ele perguntou amargamente, e ela respondeu ríspida e apaixonada, mas o vento levou suas palavras. E, sempre que ela respondia alguma palavra, o vento batia e a levava pra bem distante. E, assim, ela amava, mas não conseguia comunicar. Assim viveram, por anos e anos, o vento batendo e levando as palavras desesperadas dela. O coração dele continuava duro como pedra.

Em algum lugar, longe, longe, um poeta solitário recebia palavras de amor, trazidas pelo vento. Escrevia-as com caneta-tinteiro num guardanapo meio sujo de café, para tentar apaziguar seu pranto da solidão. 

18.1.14

Meu belo horizonte

Com a leveza duma pluma, o pássaro de ferro deixa o chão. Sinto a sensação engraçada da inércia sobre o meu corpo, que não quer voar. E voamos rumo ao céu choroso, carregado - que, de repente, é revertido em sol glorioso, num por-sobre cama de algodão-doce, num prisma de mil cores... Vejo cada poeirinha através desse sol de manhã de janeiro, flutuando gentilmente no ar... Dou até-breve à imensidão azul que deixo pra trás. E, como Dédalo, passamos rente ao sol que escalda sem derreter as asas. Nós somos feitos de luz como o sol, como as estrelas: luz que amanhece poderosa todos os dias, que dá energia pro viver-feliz... Voo rumo ao mar verde-montanhoso, pra perto da canção alegre da minha alma, pra perto da chuva milagrosa que sobrepõe o prisma branco e dá vida à verdura das serras. Estou chegando em casa.

12.1.14

Canção

Ainda chove;
Saudades
Do perfume
Que me embala
Me embriaga
Ruboriza
Faz arder.

Ainda chove
Sobre os mares
Verde-água
Azul-profundo
Cinza-escuro
De alegria e de tristeza
De saudade infinita
De amor aquiescer.